Pedro Schiavon | 25/07/2023 | 0 Comentários

CANTINA GIGIO

“O barbeiro Tranquillo Zampinetti da Rua do Gasômetro nº 224-B entre um cabelo e uma barba lia sempre os comunicados de Guerra do Fanfulla. Muitas vezes em voz alta até. De puro entusiasmo: La fulminante investita dei nostri bravi bersaglieri ha ridotto le posizione nemiche in un vero amazzo di rovine…” (A. Machado)

Zampinetti é personagem do livro “Brás, Bexiga e Barra Funda”, de Alcântara Machado e, não por acaso, era quase vizinho do imóvel que décadas depois viria a ser a Cantina Giggio.

Na obra, que conta casos dos três bairros mais “italianos” de São Paulo, o autor defende a tese de que alguns imigrantes, principalmente o italiano, trazem em si a alegria, o canto e a movimentação. Ao pisarem o solo brasileiro, carregavam a força do trabalho e a vontade de se saírem bem na nova terra. Ao se adaptarem, misturavam-se de forma espontânea, a ponto de se confundirem com a paisagem.

Um desses imigrantes foi o sr. Luigi Salvel, mais conhecido como Gigio, característico apelido italiano para os Luigi. Ele criou, com a ajuda de um amigo também italiano, a cantina que leva seu nome. Ela foi inaugurada em 1967, porém em Perdizes, região que, na época, não fazia parte do roteiro gastronômico da cidade.

Pouco depois, em 16 de agosto de 1971, a cantina Gigio foi inaugurada em sua atual sede, na rua do Gasômetro, então repleta de cantinas, com uma festa bem característica: com muita alegria, comemorações e, claro, muita comida.

A Gigio é uma das últimas remanescentes do outrora romântico, mas ainda legendário bairro do Brás. Ela retrata fielmente o ambiente das cantinas de São Paulo, com fotos antigas da capital e com massas e pratos típicos, servidos em porções gigantescas, fartamente acompanhados pelos molhos e acompanhamentos da casa.

A lista de opções é imensa: capellini, capeletti, fettuccine, fusilli, gnocchi, linguini, penne, ravióli, richitele, spaghetti, tagliarini etc, acompanhados pelos molhos branco, ao sugo, à bolonhesa, parisiense, arrabbiata, carbonara, calabrese, frascatana, italiana, marinara, papalina, pescatore, pollo, puttanesca, romanesca, Dom Pepe e muitos outros. E isso para ficar só nas massas e não falar nas vitelas, cabritos, frangos, frutos do mar…

Todos os pratos servem facilmente 3 pessoas, principalmente se antes deles você escolher algumas “entradas” que, ao contrário da maioria das casas, é oferecida por peso, em uma mesa tipo buffet onde você encontra maravilhas como o pão de lingüiça e os diversos tipos de queijos e frios.

Tudo, tanto as massas quanto os molhos, é feito lá mesmo, seguindo as receitas das “nonas”, com todo o cuidado na escolha dos ingredientes frescos e a dedicação no cuidado de cada prato.

É fácil observar no sorriso de cada cliente a satisfação, e também perceber como a alegria dos italianos é transferida para a sua culinária. Ou será que é a própria comida que gera tanta alegria?

Há mais de três décadas a Cantina Gigio tem, além da sede do Brás, uma filial em Pinheiros. E ambas são comandadas pela mesma família, sob os olhos atentos de Vinícius e Vitor Manuel Braz. Junto com eles, a amabilidade de um atendimento absolutamente pessoal, as boas opções de bebidas, a fartura e o carinho da confecção dos pratos, os bons preços e a barulhenta movimentação dos clientes trazem a certeza: você está numa legítima cantina italiana.

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